Juventude Brasileira”?”

Universo 25

Por AILTON VENDRAMINI *

O “Universo 25” designa os experimentos de John B. Calhoun com colônias de roedores em ambientes de abundância material (alimento, água, abrigo) e super densidade social. A população cresce em fases, depois estagna e entra em colapso apesar da fartura: surgem quebras de papel social (maternidade negligente, hiper agressão, apatia), aparecimento de os  subgrupos: “beautiful ones” [“Beautiful ones” é a etiqueta que John B. Calhoun deu, nas fases tardias do experimento Universo 25, a um subgrupo de roedores que se retirava da vida social e reprodutiva, dedicando-se quase só a comer, dormir e ao grooming (autolimpeza), digamos, a reencarnação moderna de Narcísio, todavia,  exibiam déficits graves de interação social, apatia exploratória e esterilidade comportamental – Em termos funcionais, eram “sobreviventes sem papel”: pouco agressivos, não parentais, sem cortejo, e isolados nas áreas superiores do recinto — um marcador da desintegração de papéis que antecedeu o colapso da colônia já que apresentaram infertilidade comportamental – Resultado: Fim da Colônia.  

Levar isso ao pé da letra para humanos é um erro — cultura, instituições e design urbano importam —mas o “experimento de abundância sem função” é um alerta atualíssimo: Quando há estímulo demais e papel de menos, a cultura social entra em entropia. O transporte irresponsável desse experimento é falta de critério, afinal estamos cônscios que temos:

  • sedimentada uma arquitetura de sentido,
  • nossas plataformas digitais não criam super densidade informacional,
  • o mundo analógico segue respeitadíssimo,
  • o resultado que colhemos atualmente não é  agressão, retraimento silencioso, estetização da vida sem projetos, queda da cooperação ou da fecundidade simbólica,
  • nossos  projetos são longos e comprometidos,
  • nossos vínculos são significativos,
  • valorizamos o pertencimento,
  • nossos objetivos são claros e os nossos papéis sociais reconhecidos pelos nossos pares,
  • remamos pela contribuição e não por ruídos ou pirotecnia,
  • e, por fim, sabemos que a abundância sem propósito corrói.

A lagosta

A lagosta ao sentir a pressão interna supera os limites da própria carapaça recolhe-se à fenda para trocar de armadura [enquanto está vulnerável]. É mister entender que o desconforto não é defeito: é sinal de crescimento. O recuo estratégico — sair do palco ruidoso, buscar abrigos em estudos disciplinados, trabalho silencioso e serviço concreto — permite:

  • trocar de pele,
  • renunciar ao culto à aprovação instantânea,
  • fortalecer competência real, caráter público e musculatura emocional.

Fora da fenda, os predadores permanecem:

  • desinformação,
  • precarização,
  • cinismo.

E a casca apertada converte-se em jaula se a muda não acontece. Acontecendo ela:

  • retorna-se maior,
  • mais útil,
  • menos manipulável.

O rito é cíclico: pressão, recolhimento, reconstrução, serviço. É assim que se cresce sem espetáculo e se rompe o circuito da estagnação.

ASIMOV, Isaac. Foundation (livro). New York: Gnome Press, 1951; reimps. Doubleday/Del Rey, frases e paráfrases.

  • “A violência é o último refúgio do incompetente.” — Salvor Hardin
  • “Qualquer tolo percebe uma crise quando ela chega; o mérito está em prevê-la e desarmá-la sem violência.” Salvor Hrdin (paráfrase)
  • “Não deixe a moral impedir você de fazer o que é certo.” — Hardin
  • “Compensa ser óbvio, sobretudo quando se tem fama de sutil.” — Hardin
  • “Um desintegrador atômico aponta para os dois lados.” — Hardin
  • “O Império cairá; nossa tarefa é encurtar a era de trevas.” — Hari Seldon (paráfrase)
  • “Psico-história prevê massas, não indivíduos.” — Seldon (paráfrase)
  • “Quando a ciência vira ritual, o poder veste fé.” — Tema da “religião da ciência” (paráfrase)
  • “Negociar antes de brandir armas.” — Política de Hardin (paráfrase)
  • “Autoridade sem crítica degenera em culto.” — Tema recorrente (paráfrase)

SENAI

As notícias recentes indicam fechamento da unidade do SENAI em Corumbá (Mato Grosso do Sul) por baixa procura, o episódio é um sintoma — não a causa — de um conjunto de forças que atua sobre a procura por formação técnica inicial. Atualmente, serviços enxutos atraem o tempo livre de jovens sem credenciais técnicas, não raro um You Tuber disseminará asneiras comprovando sua tese através de ganhos e recibos midiáticos de um gordo extrato bancário. Assim, as matrículas cedem aos supostos cantos de sereias descredenciadas. 

Juventude brasileira

“?”

* AILTON VENDRAMINI, Engenheiro eletrotécnico com 40+ anos no setor privado (ABB, VA TECH, Schneider, Veccon etc.), liderando contratos e grandes projetos. Experiência executiva no Brasil e exterior. Hoje, Diretor de Dados & Estatística e DPO de Hortolândia, à frente de LGPD e projetos de dados/IA. Articulista e consultor; MBA USP, pós-graduações FGV e especialização em Big Data.

Sobre o Autor