A Internet que Não é Nossa
Por AILTON VENDRAMINI *
📡 O hábito de ontem e o de hoje
Quem tem mais de 40 anos provavelmente ainda digita “www.(site).com.br” no navegador. Já a turma mais jovem nem perde tempo: recorre a buscadores ou a ferramentas de automação como o scraping, que avisam quando o site muda algo. O choque de gerações mostra como a internet está em constante transformação – e como cada faixa etária enxerga esse universo de forma diferente.
🌐 Internet não é Web
Muita gente ainda confunde. A internet é a infraestrutura: cabos, servidores. A Web é apenas um dos “moradores” dessa rede, ao lado de outros vizinhos como e-mail, FTP, streaming, aplicativos de mensagens. Explicar isso pode soar técnico, mas é como dizer que a cidade não é só a avenida principal – há muito mais acontecendo nas ruas paralelas.
Para transitar na Web utilizamos o protocolo de comunicação HTTP (HyperText Transfer Protocol) que foi desenvolvido no início dos anos 1990 por Tim Berners-Lee, cientista britânico do CERN (European Organization for Nuclear Research), esse é pai da Web, mas também desenvolveu o HTML (HyperText Markup Language) e o conceito de URL (Uniform Resource Locator) – essa é a base da Web. Importante: o HTTP não tem um “proprietário” no sentido comercial. Ele foi padronizado e hoje é mantido pela IETF (Internet Engineering Task Force), em conjunto com a W3C (World Wide Web Consortium), que o próprio Berners-Lee fundou em 1994. Ou seja, HTTP é um padrão aberto e qualquer empresa pode utilizá-lo.

🔑 O porquê dos números IP
Todo dispositivo conectado precisa de um “endereço” para ser localizado. Esse é o papel do IP: a numeração que organiza o tráfego de dados no planeta. É como o CEP das correspondências: sem ele, a mensagem não chega ao destino. Sim, …mas eu sei o nome do site ..tá, tá, tá, e consigo chegar lá. Esse é um drible feito para que os humanos não precisem decorar endereços com números extensos, digitamos o nome do site, o computador converte para número (endereço) e voilà. Estamos somente dificultando a vida dele e facilitando a nossa.
📬 E-mail, FTP e outras velharias modernas
Antes dos apps instantâneos, o e-mail reinava soberano – e ainda é indispensável para negócios. O FTP, por sua vez, segue firme como “carroça digital” para transferir arquivos grandes entre empresas e governos. Ambos lembram que, apesar da sofisticação da nuvem e do 5G, a internet carrega legados que continuam a funcionar.
🇧🇷 Soberania digital: discurso e realidade
Muito se fala em “soberania nacional” nas rádios, nos canais de TV e no Congresso. Mas como ter soberania se nossos dados trafegam por servidores que não estão sob jurisdição brasileira? Estamos falando aqui da internet e não da Web. Plataformas que usamos no dia a dia – redes sociais, buscadores, e até sistemas de e-mail – são operadas por empresas globais em hardware que lhes pertencem. O Brasil não controla essa infraestrutura. Aqui está o ponto cego do discurso político: a independência digital exige mais que leis; exige estratégia tecnológica. E, investimentos pesados.
💡 Para aonde vamos?
Se quisermos mais autonomia, precisamos investir em centros de dados próprios, incentivar o uso de padrões abertos e formar profissionais em larga escala. Soberania digital não é só grito de palanque; é política de Estado. Sem isso, seguiremos dependentes – navegando numa estrada que não abrimos e muito menos asfaltamos. E, pior, não queremos pagar pedágio.
Sim, digitamos o nome de um site qualquer, e lá aparece http://…. ou https://…., a diferença está nesse pequeno “s”, de “secure”. Sem o “s”, a nossa transmissão é feita em texto aberto, ou seja, sem criptografia. Isso significa que, se alguém interceptar a comunicação entre seu computador e o servidor, poderá ler tudo o que está sendo enviado ou recebido (ex.: senhas, dados pessoais, mensagens). Pois é, gafanhoto!
* AILTON VENDRAMINI, Engenheiro eletrotécnico com 40+ anos no setor privado (ABB, VA TECH, Schneider, Veccon etc.), liderando contratos e grandes projetos. Experiência executiva no Brasil e exterior. Hoje, Diretor de Dados & Estatística e DPO de Hortolândia, à frente de LGPD e projetos de dados/IA. Articulista e consultor; MBA USP, pós-graduações FGV e especialização em Big Data.