Ouro sobre preto: Exposição de Mathias Reis reimagina galeria como “Floresta Sensorial” em Campinas

Experiência imersiva e sinestésica questiona a busca utópica por um ‘El Dorado’ perdido em meio à extinção ecológica e à sombra da destruição

A exposição ‘Ouro Sobre Preto’ será inaugurada em Campinas, apresentando um trabalho que transcende a fotografia de natureza, transformando o espaço da galeria em uma floresta sensorial. Concebida após três anos de viagens e trilhas por diversos biomas no Brasil e no Canadá, a mostra reúne um conjunto multifacetado de obras, incluindo fotografias artísticas de natureza, instalações, performances, mapas, músicas e vídeo.

Sob a curadoria de Cecilia Stelini, a exposição propõe uma experiência imersiva em um ambiente obscuro e sinestésico, convidando os visitantes a investigarem mistérios e construírem seus próprios sentidos para as obras. A mostra questiona como os caminhos de cada pessoa agregam valores distintos à natureza, confrontando o público com suas próprias fantasias na busca por um ‘El Dorado’ perdido — um lugar hipotético e utópico.

A Poética do Escuro e o Protagonismo da Natureza

O artista visual, fotógrafo e professor da PUC-Campinas, Mathias Reis, enfatiza que a exposição foi desenvolvida a partir de sua pesquisa sobre processos de criação que envolvem o ambiente e a paisagem. Sua investigação poética busca dialogar com o

ambiente como um sujeito ativo na construção de narrativas artísticas. Reis dedica-se a criar obras onde a natureza tem participação fundamental em sua concepção e, de diversas formas, exerce protagonismo.

Essa perspectiva artística concentra-se na relação sensorial direta com outras formas de vida e forças geofísicas, percebendo a pluralidade de expressões vitais que se tornam matéria-prima para a criação artística. O artista busca tirar sua vida pessoal ou a concepção que tem de si mesmo do centro de atenção.

Uma característica importante das obras de Reis é a presença de grandes áreas de preto e sombra nas fotografias e instalações. O artista busca preservar o mistério com o escuro, que, embora temido por representar o desconhecido, é a partir dele que surge a curiosidade para inventar propósitos existenciais.

Arte como Testemunho Ecológico

Mathias Reis declara que evita a romantização da natureza, reconhecendo que, enquanto a vida está em constante ebulição, o conflito e o luto são constantes. Para ele, é essa potência indômita, descontrolada e sem contornos da natureza que o encanta, pois está alheia à sua vontade.

O material da exposição foi coletado em trilhas de Parques Estaduais, Federais e reservas privadas ao longo dos últimos três anos. Nesse processo, Reis obteve um panorama nítido da situação de ameaça séria à preservação dessas áreas. O artista testemunhou a “sombra de destruição”, como no Parque Nacional da Serra da Canastra, onde presenciou o início de uma queimada — que, segundo ele, não ocorre naturalmente na estação em que esteve e tem origem criminosa.

Reis observa que o lugar de suas fotografias não existe mais da mesma forma, indicando que sua arte funciona também como um testemunho dessa extinção da diversidade ecológica. Ele também critica a ausência de disposição global para tratar as questões ambientais com seriedade (citando a COP30) e a falta de políticas culturais direcionadas a incentivar questões ambientais no campo artístico.

O artista sugere que, na medida em que a multiplicidade dos biomas é devastada, a sensibilidade, a imaginação e as formas singulares de ser no mundo também são reduzidas a narrativas óbvias. Nesse contexto, a natureza em suas obras e a própria exposição atuam como redutos onde o que é diferente tem alguma chance de viver, resistindo às monoculturas de pensamento e físicas.

Mathias Reis, que já realizou as exposições individuais Exsicata (2015) e Variações do pé vermelho (2018) no AT AL | 609, afirma que a mostra deve ser vista como algo ativo que propõe, e não reativo. Ele a define como uma celebração do que merece valor e uma partilha afetiva contra o conformismo. O objetivo final é que o público tenha uma experiência própria, utilizando a arte para inventar e repovoar o mundo com suas próprias fantasias.

Serviço

Exposição: Ouro Sobre Preto Artista: Mathias Reis (Artista visual, fotógrafo e professor da PUC-Campinas, doutorando em Artes na Unesp)

Curadoria: Cecilia Stelini Local: AT AL 609 | Lugar de investigações artísticas

Endereço: Rua Antônio Lapa, 609 – Cambuí – Campinas/SP

Abertura: Quarta-feira, 3 de dezembro de 2025 Encerramento: 31 de janeiro de 2026

Visitas Guiadas: Sábados, 6 e 13 de dezembro de 2025

Visitação em outros dias e horários por email [email protected] ou instagram @609atal.

Mais informações: https://www.instagram.com/609atal/

Sobre o Autor