Economia de impacto avança no Brasil e inaugura ciclo de crescimento qualificado
Setor amadurece após uma década de aceleração de negócios socioambientais e se prepara para escalar soluções climáticas, tecnológicas e de eficiência para empresas e governosO mercado de impacto no Brasil vive um momento de consolidação. Depois de mais de uma década de desenvolvimento marcado por iniciativas sociais, programas de aceleração e participação crescente do setor público, o país entra em uma nova etapa, na qual inovação, sustentabilidade e eficiência empresarial caminham juntas. Organizações pioneiras, como o Impact Hub destacam que o setor evoluiu rapidamente e hoje ocupa papel estratégico na agenda econômica e climática nacional.
Nos anos 2000, quando coworkings ainda eram raros na América Latina e o termo “economia de impacto” sequer circulava, empreendedores brasileiros já mobilizavam iniciativas de inovação social em torno de causas como educação, moradia, empreendedorismo feminino e sustentabilidade. A partir de 2014, com a entrada de fundações empresariais e o surgimento de programas de aceleração de médio prazo, o ecossistema se estruturou: surgiram negócios que hoje são referência nacional, como a Rede Mulher Empreendedora (RME), o fundo Vox Capital, a Carbono Zero Courier e empresas de impacto que inspiraram políticas públicas, como o Vivenda, na área de reforma habitacional.
“Fomos o primeiro coworking da América Latina, mas o que nos movia desde o início era mais que espaço: era impacto. A partir de 2014, vimos o ecossistema amadurecer com programas de inovação social, fundações e políticas públicas. O Impact Hub teve papel direto nessa virada, conectando empresas, governos e empreendedores para tirar boas ideias do papel e transformá-las em soluções reais”, destaca Pablo Handl, sócio-diretor do Impact Hub São Paulo.
A virada definitiva ocorre a partir de 2017, quando a Estratégia Nacional de Investimentos e Negócios de Impacto (Enimpacto) estabelece diretrizes para o setor e aproxima governo, empresas e startups. Programas de inovação aberta passam a ser contratados via editais técnicos, e iniciativas como o IdeiaGov, hoje o maior programa de inovação aberta da América Latina, e mostram que soluções de impacto podem escalar em áreas críticas como saúde, educação e gestão pública. Durante a pandemia, por exemplo, tecnologias validadas por hubs de inovação foram adotadas por grandes hospitais, ampliando atendimentos e oferecendo respostas ágeis em cenários emergenciais.
O avanço do mercado também trouxe novos desafios. Especialistas apontam que ainda há dificuldade de transformar problemas socioambientais em oportunidades de negócio viáveis, um dos principais gargalos para empreendedores iniciantes. “Existe uma diferença entre um problema social importante e uma solução que alguém está disposto a pagar. A sustentabilidade financeira continua sendo um ponto crítico para que negócios de impacto se mantenham e cresçam”, avalia Henrique Bussacos, sócio-diretor do Impact Hub São Paulo.
Para os próximos anos, a previsão é de que o setor avance rumo a uma fase “hard B2B”, aprofundando a atuação em frentes estratégicas como cadeias produtivas, logística, energia, saúde e transição climática. A busca por modelos de validação deve se intensificar, garantindo segurança jurídica, compliance e previsibilidade para corporações e governos que desejam contratar soluções inovadoras.
A expansão dos investimentos climáticos e a adoção de tecnologias aplicadas à regeneração ambiental também devem ganhar destaque, especialmente diante dos limites observados nas negociações multilaterais da COP. O mercado de impacto surge, cada vez mais, como protagonista na criação de mecanismos capazes de viabilizar restauração de biomas, redução de emissões e modelos econômicos sustentáveis em escala.
Com 18 anos de atuação, o Impact Hub e outras organizações pioneiras se preparam para contribuir ativamente com esse novo ciclo. “O Brasil tem desafios complexos, mas também um dos ecossistemas mais criativos e resilientes do mundo. O impacto deixou de ser nicho: ele se tornou parte da estratégia de futuro do país”, destaca Henrique Bussacos.