Força de Vontade, Determinação e o Poder do Hábito Angular
Por AILTON VENDRAMINI *
Na vida pessoal e no ambiente corporativo, duas engrenagens invisíveis movem grandes realizações: força de vontade e determinação. Embora frequentemente usadas como sinônimos, são conceitos distintos. A força de vontade é o impulso inicial, o desejo consciente de agir; é acender o fósforo. Determinação é a persistência que mantém o fogo aceso mesmo quando a lenha escasseia.
A psicologia contemporânea reforça essa distinção. Angela Duckworth, em Grit, mostra que determinação — perseverança mais propósito — é um indicador de sucesso mais forte que talento. Roy Baumeister, em Willpower, lembra que a força de vontade é um recurso mental finito, exigindo renovação.
Mas existe um terceiro elemento, frequentemente negligenciado, que potencializa ambos: o hábito. Charles Duhigg, no livro O Poder do Hábito, apresenta o conceito de hábitos angulares — rotinas que, uma vez instauradas, desencadeiam uma cadeia de melhorias em outras áreas. São hábitos que funcionam como alavancas, multiplicando resultados.
Um exemplo marcante é o da gigante Alcoa. Ao assumir a presidência, Paul O’Neill não anunciou cortes de custos nem planos agressivos de mercado. Ele escolheu um único foco: segurança no trabalho. A meta zero acidentes, repetida obsessivamente, não apenas reduziu lesões, mas também melhorou processos, comunicação interna e qualidade do produto. O hábito angular de segurança tornou-se o núcleo cultural que impulsionou produtividade e lucro. Suponhamos que você seja um gestor, um CEO, qual o hábito angular está propondo ou impondo em sua organização?
Esse caso ilustra como a disciplina de manter um hábito central fortalece tanto a força de vontade (ao dar propósito diário) quanto a determinação (ao criar rotinas estáveis). Em vez de depender unicamente de picos de motivação, organizações que cultivam hábitos angulares constroem uma base sólida que sustenta avanços no longo prazo.
No setor público, o paralelo é direto. Um programa social pode nascer de uma força de vontade política, mas somente sobrevive se apoiado em determinação técnica e hábitos organizacionais bem definidos — como padrões consistentes de coleta de dados, prestação de contas e melhoria contínua. Suponhamos que você seja o prefeito de uma cidade e fosse perguntado sobre o hábito angular que está impondo durante a sua gestão, o que você responderia?
Veja o exemplo da Alcoa, o hábito angular foi seguido por inúmeras ações convergentes e o mais interessante era de conhecimento de todos na organização, poderíamos dizer que o hábito angular se transformou numa filosofia de trabalho, em uma marca da gestão. Ideias ou slogans sem ação produzem resultados pífios. É a ação disciplinada — ancorada em hábitos angulares — que converte ideias em resultados concretos.
O recado é claro: querer e persistir são essenciais, mas não bastam. É preciso criar hábitos que transformem essas forças em sistemas permanentes de excelência. Força de vontade acende a luz, determinação mantém a energia fluindo, e o hábito angular garante que a iluminação se espalhe, iluminando o caminho para resultados sustentáveis.
* AILTON VENDRAMINI, Engenheiro eletrotécnico com 40+ anos no setor privado (ABB, VA TECH, Schneider, Veccon etc.), liderando contratos e grandes projetos. Experiência executiva no Brasil e exterior. Hoje, Diretor de Dados & Estatística e DPO de Hortolândia, à frente de LGPD e projetos de dados/IA. Articulista e consultor; MBA USP, pós-graduações FGV e especialização em Big Data.