Normas x Frameworks x Templates
Normas, frameworks e templates: por que importam mais do que nunca
Por AILTON VENDRAMINI *
No Brasil, o debate sobre normas técnicas ainda encontra resistências. Para muitas empresas, a leitura de documentos extensos da ABNT, com centenas de páginas e alto custo, parece um fardo. Some-se a isso a impossibilidade de reprodução e distribuição desses materiais, e o resultado é a adoção tímida das normas em processos internos.
Entretanto, em licitações públicas e em credenciamentos institucionais, a adesão a padrões técnicos pode ser decisiva. A certificação funciona como um selo de credibilidade: tal como um médico que exibe diploma reconhecido, uma organização certificada transmite confiança de que superou barreiras técnicas e regulatórias. Para investidores e parceiros, credenciais comprováveis pesam mais do que a simples retórica de competência.
Se as normas fornecem a base regulatória, os frameworks traduzem melhores práticas consagradas pelo mercado. No campo de tecnologia da informação, por exemplo, convivem as normas ISO com frameworks como o COBIT. A combinação de ambos confere padrão, continuidade e previsibilidade — atributos essenciais para a transparência, a qualidade dos serviços e a governança sustentável. Mais do que proteger contra sucessões mal planejadas ou gestões personalistas, esses instrumentos aumentam a atratividade junto a investidores institucionais.
O paralelo com empresas de capital aberto é direto. Uma companhia familiar que ingressa na bolsa dificilmente despertará confiança se operar sem padrões de governança testados. O investidor busca resiliência organizacional e clareza de processos, e não a figura de um gestor individual. Casos como a Petrobras ilustram: a decisão de investir não deve estar condicionada à reputação momentânea do dirigente, mas à robustez da governança corporativa.
Outro ponto crítico é o encadeamento das instâncias de governança. A governança de TI, por exemplo, não é autônoma: está subordinada às diretrizes da governança corporativa, que por sua vez deve criar valor para o negócio como um todo. Gestão e governança não são sinônimos. Enquanto a gestão operacionaliza, a governança estabelece as diretrizes estratégicas e os padrões a serem respeitados.
Já no universo digital, os templates cumprem papel análogo. Funcionam como molduras gráficas pré-formatadas que organizam cores, tipografia e seções, acelerando a publicação de websites e plataformas.
Embora menos sofisticados que normas e frameworks, os templates padronizam a experiência visual e comunicacional, reforçando identidade e consistência de marca.
No fim, normas, frameworks e templates convergem em um mesmo ponto: oferecem disciplina institucional. Ao criar padrões verificáveis e replicáveis, reduzem riscos, aumentam a confiança de investidores e cidadãos, e alinham a gestão ao princípio de governança responsável. Para empresas e municípios que desejam atrair investimentos e fortalecer sua reputação, abrir mão desse tripé não é apenas arriscado — é retrógrado.
* AILTON VENDRAMINI, Engenheiro eletrotécnico com 40+ anos no setor privado (ABB, VA TECH, Schneider, Veccon etc.), liderando contratos e grandes projetos. Experiência executiva no Brasil e exterior. Hoje, Diretor de Dados & Estatística e DPO de Hortolândia, à frente de LGPD e projetos de dados/IA. Articulista e consultor; MBA USP, pós-graduações FGV e especialização em Big Data.