Fundings de financiamento habitacional estão em xeque, alerta o SindusCon-SP

Reunião de Conjuntura vê preços convidativos dos imóveis, mas bancos dificultam o acesso ao crédito.

Diretor da Regional Campinas verifica oportunidades para lançamentos, porém inibidas pelas incertezas nos financiamentos.

Os dois fundings de financiamento habitacional, FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) e SBPE (Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo), estão em xeque e ameaçam a recuperação do mercado imobiliário. O STF (Supremo Tribunal Federal) iniciou o julgamento da correção do FGTS e, se decidir pelo fim da TR (Taxa Referencial), a repercussão será devastadora e poderá reduzir o alcance do programa Minha Casa, Minha Vida à faixa 3. E os bancos, superaplicados na exigibilidade da aplicação dos recursos da Poupança em crédito imobiliário, elevaram os juros e dificultaram o acesso aos financiamentos. Ainda assim, o ciclo de negócios manteve resiliência nos primeiros meses do ano, com elevação das vendas e diminuição de lançamentos.  

Este foi o cenário desenhado na reunião de Conjuntura Econômica do SindusCon-SP, conduzida por Eduardo Zaidan, vice-presidente da entidade, com a participação do presidente Yorki Estefan, em 26 de abril.

Regional Campinas – “Na região, a procura para a aprovação de plantas de novos empreendimentos imobiliários se mantém, porém as incertezas em relação aos financiamentos também persistem e nos trazem preocupação para os próximos meses”, comentou o diretor da Regional Campinas do SindusCon-SP, Marcio Benvenutti. A preocupação maior é com a retomada efetiva do segmento de construção de empreendimentos habitacionais de interesse social (habitação para a baixa renda), que gera movimento em toda a cadeia produtiva.

Por outro lado, com relação a mão de obra, Benvenutti afirmou que o problema de falta de profissionais qualificados para o setor da construção na região, como ocorreu de forma mais intensa no ano passado, se encaminha para um nível de normalidade. Interrompidos em razão da pandemia da Covid-19, o diretor anuncia a retomada dos cursos de qualificação em parceria com o Senai, já na próxima semana, para a formação de mestre de obra. Nas próximas semanas serão iniciados cursos para pedreiro, carpinteiro e eletricista.

Segundo o presidente do SindusCon-SP, Yorki Estefan, o crédito imobiliário está escasso e o resultado das vendas não é animador, com preços reduzidos dos imóveis, não havendo justificativa para otimismo no mercado. Esta visão foi corroborada por Odair Senra e Mauricio Bianchi, vice-presidentes da entidade. O momento é convidativo para o comprador, mas os bancos dificultam o acesso ao crédito, comentaram. 

Eduardo Capobianco, representante do SindusCon-SP junto à Fiesp, observou que a forte restrição ao crédito e os juros elevados influenciam a redução dos lançamentos e deverão afetar o mercado no futuro.

Para Eduardo Zaidan, o mercado está vivendo um momento de mau humor com a inflação e os juros altos, além do fato de o presidente do Banco Central ter declarado que ainda não está garantida a responsabilidade fiscal, condição para a redução dos juros. 

De acordo com Zaidan, o arcabouço fiscal apresentado pelo governo passa necessariamente por um aumento da arrecadação. Ele informou que o Grupo de Trabalho sobre a Reforma Tributária do SindusCon-SP avança, com subsídios técnicos para demonstrar que a construção deve ser excepcionalizada de uma futura alíquota única do IBS (Imposto sobre Bens e Serviços) a ser criado. “Os produtos da construção não são bens de consumo, e sim ligados a investimentos”, afirmou. 

Perspectivas do crédito habitacional 

Ana Maria Castelo, coordenadora de Projetos de Construção do FGV/Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas), comentou que o caso Americanas tornou o mercado bancário ainda mais restritivo na concessão de crédito. E mostrou que os dois principais fundings da habitação, FGTS e SBPE, estão em xeque. 

Em sua apresentação, a economista mostrou que houve crescimento de 44% das contratações com recursos do FGTS para o financiamento da habitação, e de 12% no número de unidades financiadas, nos primeiros dois meses do ano, na comparação com o mesmo período do ano passado. Caso subam os juros por consequência de uma eventual decisão do STF pela mudança da correção dos depósitos do Fundo, haverá forte impacto, e o programa Minha Casa, Minha Vida giraria apenas em torno da faixa 3. 

No SBPE, as contratações vêm declinando, com quedas de 15% nas contratações e de 30% no número de unidades, no primeiro bimestre, comparado ao mesmo período do ano passado. O crédito está mais restritivo e caro, afetando o ciclo de negócios em andamento. A captação líquida da Poupança segue baixando e os bancos estão superaplicados, comentou Ana Castelo. 

Ela mostrou uma simulação sobre o efeito negativo que a elevação dos juros no crédito imobiliário tem sobre a renda exigida das famílias, o valor das prestações e a consequente exclusão das famílias do acesso ao financiamento. Mesmo assim, há resiliência por parte do mercado imobiliário, que reduziu o volume de lançamentos, mas elevou as vendas. No mercado da cidade de São Paulo, as vendas do segmento econômico cresceram, e as do segmento de médio e alto padrão continuaram puxando para cima o resultado final. A questão é até quando esta resiliência vai se manter, prosseguiu a economista. 

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Jornalistas: Edécio Roncon / Vera Graça

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