Temporal na grande São Paulo esquenta o debate sobre fiação elétrica subterrânea e não deixa o tema morrer alagado

As fortes chuvas que atingiram a Grande São Paulo na terça-feira (18) deixaram um rastro de destruição, provocando alagamento, morte, apagão e 275 mil imóveis sem energia. Uma possível solução para proteger vidas e evitar apagões é o projeto de lei, reapresentado pelo deputado Marcelo Crivella, que pretende obrigar as concessionárias a substituírem as redes aéreas de distribuição de energia por redes subterrâneas.
Brasil, fevereiro de 2025: A forte chuva que atingiu a Grande São Paulo na tarde de terça-feira (18/02) trouxe caos à capital e região metropolitana. A Defesa Civil emitiu um “alerta severo” para risco de alagamentos e enxurradas nas zonas norte, oeste, centro e leste da cidade, além de Guarulhos.
O temporal, acompanhado de ventos intensos e descargas elétricas, deixou 226.462 endereços sem energia elétrica, de acordo com a Enel. O apagão se estendeu também a outros 23 municípios da região metropolitana, agravando ainda mais os transtornos causados pelas chuvas.
Na manhã desta quarta-feira (19/02), mais de 100 mil imóveis ainda estavam sem luz. A Enel informou que equipes seguem trabalhando para restabelecer o fornecimento em 114 mil residências, priorizando as regiões mais afetadas, como as zonas norte e oeste da capital.
A crise expõe consequências diretas e preocupantes na vida da população, como destacou o deputado federal Marcelo Crivella. “O impacto das chuvas vai muito além dos transtornos imediatos. Estamos falando de perdas de alimentos em geladeiras devido à falta de energia, pessoas presas em elevadores por conta de apagões, alagamentos que deixam famílias ilhadas e comprometem a mobilidade urbana, prejuízos no comércio que dependem de refrigeração para manter estoques e até interrupções em serviços essenciais, como hospitais e transporte público. O sistema aéreo de distribuição elétrica tem mostrado cada vez mais a sua vulnerabilidade diante das adversidades climáticas, expondo a necessidade urgente de modernização e resiliência da nossa infraestrutura elétrica”, enfatizou.

Menos de 1% da rede elétrica brasileira é subterrânea. São Paulo possui apenas 60 quilômetros de cabos aterrados, enquanto cidades como Rio de Janeiro e Belo Horizonte contam com 11% e 2% de redes subterrâneas, respectivamente. No cenário internacional, o contraste é ainda mais evidente: Londres e Paris começaram a enterrar seus fios no século XIX, e Nova York já possui 71% de sua rede subterrânea.
A implementação de redes subterrâneas em São Paulo, no entanto, esbarra nos custos elevados. A Prefeitura estima que apenas a região central demandaria investimentos de aproximadamente R$20 bilhões. Mesmo assim, Crivella defende que os benefícios compensam os gastos. “Além de evitar apagões, o sistema subterrâneo reduz furtos de energia e cabos, melhora a segurança pública e gera economia a longo prazo”, explicou.
O deputado relembrou o Projeto de Lei nº 37/2011, de sua autoria, que obrigaria as concessionárias a substituir redes aéreas por subterrâneas em cidades com mais de 100 mil habitantes. Arquivado na época, Crivella lamenta a oportunidade perdida: “Se tivesse sido aprovado, hoje contaríamos com uma rede mais segura e eficiente”.
Especialistas e parlamentares argumentam que a crise energética atual deve ser um alerta para a necessidade urgente de modernização do setor elétrico, especialmente em um contexto de mudanças climáticas e tempestades mais frequentes. “Precisamos de uma rede de distribuição à altura dos desafios impostos pelas crises climáticas, que assegure um fornecimento estável e seguro para todos”, concluiu Crivella.
O debate sobre redes subterrâneas deve continuar a ganhar força, unindo esforços entre gestores públicos, concessionárias e sociedade civil para modernizar a infraestrutura energética de São Paulo e do Brasil.