Hortolândia implanta ambulatório para população transexual

Nova unidade oferece terapia hormonal para pessoas trans que queiram fazer a transição de gênero

Hortolândia avança mais um passo importante para promover a inclusão de pessoas de diferentes segmentos da sociedade. A Prefeitura implanta um ambulatório para atender o público transexual. A nova unidade foi apresentada numa capacitação (foto), ministrada pela Secretaria de Saúde, nesta semana, na Câmara Municipal. Participaram da atividade mais de 70 profissionais das Atenções Básica e Especializada, e das redes de Urgência e Emergência do município. 

A formação explicou para as equipes de saúde o fluxo e os protocolos de encaminhamento e atendimento do público trans no ambulatório. A nova unidade fica dentro do CEI (Centro Especializado em Infectologia, o antigo Amdah (Ambulatório Municipal de DST/Aids de Hortolândia)), localizado na avenida Thereza Ana Cecon Breda, 1.115, Vila São Pedro. O ambulatório utiliza a estrutura já existente do CEI, que compreende dois consultórios médicos, uma sala de atendimento psicológico, uma sala de atendimento de assistência social, uma sala de coleta de exames e uma farmácia. 

De acordo com a Secretaria de Saúde, o ambulatório oferece o tratamento hormonal, também chamado de terapia hormonal ou hormonioterapia. A terapia é um dos procedimentos disponíveis para pessoas trans que queiram fazer a transição de gênero. Pessoa trans é aquela que não se identifica com as características sexuais biológicas de nascença. 

“Para poder fazer a transição de gênero, a pessoa trans deverá passar antes por uma avaliação, que abrange vários aspectos, dentre os quais psicológicos, psiquiátricos, sociais, de saúde mental”, explica a endocrinologista Mariana Fujiwara, uma das profissionais que integra a equipe do ambulatório. 

Segundo a endocrinologista, a avaliação é feita pela equipe multidisciplinar do ambulatório, formada por 10 profissionais de várias especialidades médicas, tais como psiquiatria, psicologia, farmacêutica, infectologia, assistência social e enfermagem. Caso a avaliação seja positiva, a pessoa trans inicia a terapia, sob acompanhamento da equipe do ambulatório. A endocrinologista Mariana Fujiwara reforça que o ambulatório oferece somente a terapia hormonal. A unidade não disponibiliza cirurgias nem procedimentos estéticos.    

QUALIDADE DE VIDA 

A Secretaria de Saúde iniciou o processo de estruturação do ambulatório em agosto do ano passado. A unidade começou a funcionar em janeiro deste ano, e desde então já faz o acompanhamento de 20 pacientes.

O psiquiatra Claudio Rocha, que também integra a equipe do ambulatório, destaca que a nova unidade representa uma importante conquista para a comunidade trans, que passa a ter acesso a informações e orientações de saúde confiáveis na nova unidade. 

“Em virtude da sua condição, o público trans está sujeito a sofrer transtornos mentais e a viver em situação de vulnerabilidade social. Por isso, é importante a implantação do ambulatório. Ao criar essa nova unidade, a Prefeitura garante que a população trans receba atendimento de saúde adequado e tenha acesso a serviços de qualidade. A estrutura do ambulatório oferece segurança para as pessoas trans. Enfim, a nova unidade contribui para melhorar a qualidade de vida da comunidade trans da cidade. Por meio do ambulatório, queremos fazer com que a população trans também utilize e procure os demais serviços e unidades oferecidos pela rede municipal de saúde”, salienta o psiquiatra. 

A iniciativa da Prefeitura de Hortolândia em implantar o ambulatório é apoiada pela comunidade trans. Uma das pessoas que aprovou é o estudante Louis Lui, de 20 anos, que participou do evento de apresentação da unidade. O jovem é um dos primeiros 20 pacientes atendidos pelo ambulatório que iniciou a terapia hormonal e tem recebido acompanhamento. 

Lui conta que há quatro anos decidiu fazer a transição de gênero. Para isso, procurou orientação sobre o tema junto à Secretaria de Saúde. “Fiquei muito surpreso positivamente com a decisão da Prefeitura de criar o ambulatório. Nunca pensei que, de repente, a minha iniciativa em buscar ajuda possa ter contribuído para criar um movimento pelo ambulatório. É gratificante saber que você tem voz e que não precisa ficar marginalizado. Mas, para isso, você tem que correr atrás e batalhar”, ressalta Lui. 

Quem também elogia a criação do ambulatório é a cabeleireira Gigi Pavanesi, integrante dos Conselhos Municipais de Saúde e da Mulher que também esteve presente no evento de apresentação da unidade. “O ambulatório promove a inclusão, a dignidade e o respeito da comunidade trans. É uma grande conquista e um avanço na política pública de saúde para essa população tão marginalizada. Agora que temos um ambulatório na cidade, não precisamos mais procurar esse serviço em outras cidades da região. É um lugar seguro onde as pessoas trans recebem atendimento digno. Já conheço o CEI. É um local maravilhoso! Também já conheço toda a equipe de lá, que é muito bem estruturada”, enaltece a cabeleireira. 

A Secretaria de Saúde estima que a população trans do município seja em torno de 4.500 pessoas. A diretora de Atenção Especializada da Secretaria de Saúde, Fátima Gomes, salienta que, ao implantar o ambulatório, a Prefeitura contempla um dos eixos discutidos na última Conferência Municipal de Saúde, realizada no ano passado.  

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