Propriedade Intelectual e Industrial: Mulheres, patentes e empreendedorismo

Por Clara Toledo Corrêa

Se você está lendo esse artigo, com certeza é pelo fato de ter tido acesso a invenções ou estudos realizados por uma mulher que viabilizou a vida que temos hoje, e não estou exagerando. Vou demonstrar.

A seringa com êmbolo, que facilita a aplicação de diversos medicamentos e que salvou a vida de muitos seja de covid-19, sarampo, varíola e outras doenças que antigamente matavam ou deixavam sequelas irreversíveis, foi criada por uma mulher – Letícia Geer. A fibra ótica que permite que a internet chegue a sua casa e que sua TV a cabo funcione, apenas se tornou viável pelos estudos de Shirley Ann Jackson, mulher, negra e PhD em física nuclear. Já o Wi-Fi teve em sua origem a contribuição de Hedy Lamar (multifuncional como toda mulher, atriz de Hollywood e inventora austríaca).

Também, não podemos nos esquecer dos nomes das brasileiras que fizeram total diferença nessa Pandemia – Jaqueline de Jesus e Ester Sabino, responsáveis pelo mapeamento do genoma desse vírus, que ainda temos que lutar contra ele.

Além dessas mulheres que foram essenciais para nossas vidas, muitas outras, de forma anônima, contribuíram e contribuem para uma sociedade melhor. Seja por meio de estudos, pesquisas, empreendendo ou simplesmente fazendo o melhor que podem (para si) e para aqueles que fazem parte da sua vida.  E, novamente afirmo: não estou exagerando e posso demonstrar.

Nós mulheres, mesmo diante da maior crise sanitária que o mundo passou e ainda enfrentando os percalços de nossa economia conseguimos crescer em 40% como agentes atuantes no mercado empreendedor. E por óbvio, não podemos romantizar tal dado, muitas de nós empreendem por necessidade e não apenas para realizar um sonho ou colocar em prática um dom.

Entretanto, também não podemos tirar o mérito de todo o suor vertido pelas pesquisadoras e inventoras que inovaram diante de um problema ou uma necessidade latente. Isso faz parte do prestígio por elas conquistado.

Esses 40% poderiam ser um número visto com maior naturalidade por todos de maneira geral, uma vez que as mulheres representam cerca de 51,8% da população. Contudo, é mais do que conhecido que enfrentamos aquilo que chamamos de desigualdade de gêneros. Conforme a Global Gender Gap Index são necessários 108 anos para preencher a diferença entre homens e mulheres quanto à justiça social.

Assim, por mais resilientes ou antifrágeis que sejamos, as nossas conquistas têm por trás delas números significativos, pois são algo diante de “nada”, mas ainda não suficientemente robustos ou tão numerosos quanto nós.

Em que pese o número de mulheres que empreendem, o percentual que possui algum tipo de registro de sua propriedade industrial ou intelectual é muito baixo, isso se dá, também e principalmente no Brasil, pelas condições ou falta delas no mercado.

E empreender e realizar registros de marcas, patentes, softwares, etc. é algo que possui uma relação indissociável. Assim como não se pode separar o crescimento de uma economia de inovações e dos seus registros de propriedade.

Segundo o Instituto de Propriedade Intelectual do Reino Unido, menos de 13% dos pedidos de registros de patentes integram nomes de mulheres, ainda que esse número tenha aumentado no decorrer dos anos. De fato, no dia a dia podemos perceber isso. Há pelo menos três anos percebi que o número de clientes mulheres aumentou, mas não passa de 15%.

Assim, ainda que sejamos mais da metade da população e que lutemos muito para subir cada degrau, é imprescindível que todos contribuam para com as nossas conquistas. Dessa forma todos e não apenas as mulheres podem sair ganhando.

Clara Toledo Corrêa é especialista em Propriedade Intelectual e Industrial e advogada da Toledo Corrêa Marcas e Patentes. E-mail – [email protected]


Roncon & Graça Comunicações
Jornalistas: Edécio Roncon / Vera Graça

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