“Um perfume nos transporta pelo tempo e espaço”, afirma bióloga do CEUB
Entenda as diferenças entre a perfumaria sintética e natural, além de sua conexão com a personalidade humana
As fragrâncias podem nos guiar por uma jornada olfativa que estimulam o sistema nervoso e sua conexão com memórias afetivas. O potencial está, sobretudo, nas nuances das fragrâncias presentes na natureza. Em contraste com a indústria da perfumaria sintética, a especialista em alta perfumaria natural e professora de Ciências Biológicas do CEUB, Francislete Melo, detalha o processo de confecção e combinação de essências, até a conexão com personalidade de cada indivíduo.
A principal diferença entre a perfumaria natural e a sintética, de acordo com a especialista, é o número de notas utilizadas na composição dos perfumes. Enquanto a perfumaria natural é minimalista, a sintética contém uma ampla variedade de notas complexas. “Para um perfume ser considerado natural, ele deve ter pelo menos 95% de ingredientes naturais. No Brasil, a fragrância de Tânia Bulhões possui mais componentes naturais em sua fórmula. Já na indústria mundial, a Jo Malone está entre as marcas mais famosas”, cita Francislete.
A professora do CEUB explica que a perfumaria natural usa uma linguagem semelhante à dos músicos para descrever as concentrações dos ingredientes. “Falamos em notas e acordes, onde cada cheiro é como uma nota numa melodia. Por exemplo, a rosa é uma nota, a flor de laranjeira é outra. Isso faz com que os perfumes naturais sejam minimalistas. Já a perfumaria sintética pode ter milhares de notas, com alto nível de complexidade”, classifica.
A duração de um perfume natural varia de acordo com a quantidade de matéria-prima utilizada, podendo variar de 5% a 25%, detalha a docente do CEUB. Para garantir máxima durabilidade, a palestrante destaca que o local de aplicação faz toda a diferença: “O perfume deve ser usado na região do coração e em outros locais onde a circulação sanguínea é maior e a temperatura do corpo é mais elevada, pois ajuda a projetar a fragrância e prolongar sua permanência”.
Perfume é ciência
Francislete enfatiza que a perfumaria natural tem o poder de se conectar diretamente com nossa genética e memórias, uma vez que as moléculas dos aromas interagem com os receptores olfativos e influenciam o córtex cerebral, evocando histórias e sensações únicas. “Os cheiros podem evocar lembranças e emoções, tornando a perfumaria natural uma experiência profundamente pessoal. Um local, uma pessoa, uma comida ou um momento é lembrado ao sentir um aroma”, define.
Cada perfume é construído com notas de saída, notas de coração e notas de fundo, que são percebidas em diferentes momentos após a aplicação, explica docente do CEUB. Para criar um perfume, o primeiro componente são as notas de coração, que aparecem na pele após cerca de 15 minutos. “Em seguida, adicionamos as notas de fundo, que duram mais tempo e aparecem após 30 a 50 minutos. Por fim, incluímos as notas de saída, que são percebidas imediatamente após a aplicação. Ou seja, nunca se sente um perfume totalmente quando aplica”, afirma.
Sobre a escolha das notas e famílias olfativas, a bióloga frisa que os perfumes podem servir como extensão do estado de espírito e objetivos de uma pessoa num determinado momento, como herbais, cítricos, frutados, picantes, amadeirados e diversos outros. “Perfumes florais podem atrair personalidades românticas, enquanto fragrâncias sensuais estão associadas a pessoas mais ousadas”, completa.